quarta-feira, abril 30, 2008

Palavra de honra!

Palavra de honra que não percebo este mundo! Se calhar é porque sou demasiado ingénua. A Su diz que é porque vim criança... 
Porque é que anda meio mundo a enganar outro meio? Tenho saudades das pessoas de palavra, dos acordos de cavalheiros, do valor de um aperto de mão. 
Nunca trabalhei com contratos. Mentira! Tive alguns. Todos a recibos verdes. Todos leoninos. Todos daqueles em que assumimos todos os deveres que existem na constituição e abdicamos de todos os direitos. É assim quando se é autor em Portugal. E vivam os americanos e as greves! Cá, nunca chega nada disso. Só gostamos dos autores depois de mortos e enterrados há, pelo menos, vinte e cinco anos. Velharias...
O meu pai ensinou-me três coisas importantes na vida: a dar um aperto de mão forte, a olhar as pessoas nos olhos e a manter a palavra. Tudo regras de pessoas de bem.
Lembro-me que ele costumava fazer "treinos", em criança, obrigando-me  a mim e aos meus irmãos a olhar para os seus grandes olhos azuis, sem pestanejar, o tempo que aguentássemos. Essa estratégia já deu frutos em reuniões complicadas... Acho que é por isso que dizem sempre que sou... deixa ver se me lembro da palavra... É por I. Interessante? Não... Inteligente? Não... Gira? Também, mas letra errada!
É uma por I, das más. Qualquer coisa entre impulsiva e comunista... Já me lembro! Irreverente! Afinal não é das más. Até tenho muito orgulho nela. Orgulho... É esse o mal, diz a Su. Foi isso que vim cá resolver. Enquanto não deixar de ter orgulho estou fodida!
Hoje, estou particularmente fodida! Fico assim quando as pessoas ficam com medo das palavras, do seu poder. Dão e tiram. Dizem e desdizem. Têm sobretudo medo das palavras embrulhadas em verdade. Essas sim, são as mais perigosas de todas. Podem fazer danos. Não apenas colaterais mas daqueles que abrem buracos de três metros e afundam navios, empresas, relações. 
Eu não tenho medo das verdades. Já fui despedida por causa delas (e do tal orgulho). As mentiras custam-me mais. As que se contam e as que nunca se vão contar, por causa das outras mentiras... É por isso que gosto de deixar tudo por escrito. Para não haver enganos nem confusões. Para ficar tudo esclarecidamente transparente e perene. 

terça-feira, abril 29, 2008

A tristeza das comédias românticas

É incrível a quantidade de vezes que nos perguntam, em formulários on-line, quais são os nossos filmes preferidos. E nós ficamos ali parados... a pensar em todos os filmes que vimos e nos marcaram. Alguns, vimos muitas vezes. Outros, nem por isso, mas ganharam a etiqueta de "preferido" porque foram especiais naquela altura. Às vezes nem sabemos bem identificar o que os tornava tão especiais. Há uma vaga ideia de que eram divertidos, diferentes, únicos... (Eram quase todos comédias românticas)... E ficamos com vontade de as rever. É então que se dá o choque com a realidade. Anos depois (delas e nossos) parecem agora menos interessantes, menos divertidos, menos invulgares. Fomos nós que mudámos ou foram eles? Teremos o olhar viciado? Ou a evolução do cinema relegou-os para uma subcategoria, quando antes eram os melhores?
Porque é que há tantas comédias românticas que terminam com um dos protagonistas a correr (literalmente) um para o outro?
É triste...

segunda-feira, abril 28, 2008

O cabeleireiro de Paulo Bento


Vou ao mesmo cabeleireiro há vinte anos. Tudo começou numa tarde de Junho de 1988, quando a conselho de um colega e vizinho decidi meter os meus cabelos pela primeira vez nas mãos de um profissional. O objectivo dessa primeira incursão era simples. Andara um ano inteiro a tentar domar o cabelo com gel. Sem sucesso. Acreditava que ter um bom penteado era meio caminho andado para se ter sucesso com as raparigas. E no dia seguinte havia a excursão de final de ano lectivo. Eram razões mais do suficientes para dar o passo de começar a ir a um cabeleireiro.
Até esse dia, nunca tivera o cabelo cortado por um profissional. E depois disso, nunca mais deixei de ter. E também nunca mais fui a outro salão. A capacidade de um homem ser fiel vê-se por duas coisas... O amor ao seu clube e a constância no seu cabeleireiro.
Para um puto de 14 anos, entrar num salão de cabeleireiro de bairro e dizer a um velho barbeiro como é que queria a sua melena penteada era, na altura, um acto de coragem e também um assumir de independência...
Só um ano antes é que eu tinha conseguido finalmente libertar-me desse jugo terrível de ser a minha mãe a escolher a minha roupa... Este era sem dúvida o passo seguinte, ser eu a mandar no meu visual.
Durante o ano e meio seguinte, cortei o cabelo religiosamente naquele salão, uma vez por mês. Era mais ou menos esse o tempo que levava a que o meu penteado à la Morrissey deixasse de ser controlável, graças a umas hormonas em permanente explosão e a uma característica genética, a de ter caracóis, que me arruinavam em poucos dias, o fino corte com que me brindavam sempre os profissionais.
As idas ao cabeleireiro eram sempre um projecto. Acordava de manhã já a pensar nisso. Sempre com o medo que dessa vez o cabeleireiro estivesse menos inspirado e me arruinasse o estilo capilar, sempre com receio que fosse essa a vez em que ele me cortaria uma orelha com a navalha, ou pior me contaminaria com uma doença incurável!
Justiça seja feita, nunca tal aconteceu. E quando eu comecei a lá ir, as navalhas ainda não eram descartáveis...
Enquanto andava na escola secundária, programava as idas ao cabeleireiro nos furos do horário. O efeito era risível e tinha o condão de me pôr na boca do mundo pelas piores razões... Não cabe na cabeça de ninguém chegar com um penteado à escola às oito da manhã e às dez apresentar outro, cheio de laca e acabado de secar. Mas era o final dos anos oitenta e os Sétima Legião eram o que estava a dar... Ou seja, as pessoas olhavam para as excentricidades de uma maneira diferente.
Um dia, já andava na faculdade, vi surgir um rapaz à porta do cabeleireiro. Era entroncado, e não muito alto e a cara dele não me era estranha. Descobri mais tarde que o vira por ali algumas vezes, porque o pai tinha uma loja na mesma rua. O rapaz estava na altura a trabalhar em Guimarães, mas tinha vindo a Lisboa, em trabalho, e tinha ficado, para ir ao cabeleireiro. Nos anos seguintes vi-o várias vezes. Acabou por vir trabalhar para Lisboa, depois esteve em Espanha, mas acabava sempre por ir ali cortar o cabelo. Outro, que como eu, se mantinha fiel.
Há uns tempos, a escolha de estilo capilar desse rapaz, hoje já um homem, foi tema de muitas crónicas, de muitos textos de humor e do gozo de uma nação inteira. Era natural, o rapaz estava a trabalhar em Lisboa, numa empresa com mais de 100 anos e estava a ter sucesso. E as pessoas não perdoam quem tem sucesso e risco ao meio.
Não foi isso que fez o rapaz mudar de estilo capilar... E tive hoje a prova... Mudar de cabeleireiro. É também por isso que eu gosto dele, porque se mantém fiel aos seus princípios.
Os grandes homens têm sempre uma ligação com o seu cabeleireiro. É com ele que conversam e muitas vez é a ele que contam as suas mágoas. Quando partilhamos o cabeleireiro de um grande homem, partilhamos desse momento único de estar perto de uma estrela.
O meu cabeleireiro é o cabeleireiro do Paulo Bento... E eu já lá não vou há mais de seis meses.

sábado, abril 26, 2008

Moving on...

Estive dois anos e meio a trabalhar para uma coisa que não aconteceu. É tempo de seguir em frente. Como diria o JP, vamos içar as velas e começar a abordagem...